15.3.09

Três casamentos e um pouco de audácia



Hoje de manhã, terminei uma longa e onerosa temporada de cerimônias de casamento. É, meus caros amigos: aproximar-se dos 30 anos tem dessas coisas. As amigas da sua idade estão se casando - é irremediável. Daí a isso te levar a crer que deveria considerar seriamente a possibilidade é um pulo. Impossível olhar toda aquela felicidade transbordando e não pensar nem por um minutinho que gostaria de estar lá, de véu, grinalda, buquê e vestido branco, fazendo juras de amor eterno perante a lei dos homens e a lei de Deus.


O casamento de ontem, devo esclarecer, foi o mais significativo dos três que assisti nos últimos meses. A noiva era minha prima Camila, pessoa muito amada e cara pra mim. Nossa primeira foto juntas, como gostamos de brincar, foi ainda dentro dos barrigões de nossas mães, um apontando para o outro, num quase desafio de "quem tem o útero mais dilatado". Nasci em agosto; Camila, em outubro. Crescemos e nos tornamos duas pessoas muito diferentes, e justamente por isso sempre tive a certeza claríssima de que ela se casaria antes de mim. A grande questão, portanto, era: como eu vou me sentir, solteira comme il fault, no casamento da Mila? Serei contaminada a sério pelas susceptibilidades suburbanas da minha família a ponto de me considerar a "prima encalhada"? Vou me sentir uma velha solteirona quando não conseguir segurar as lágrimas? Oh, vida.


Madrinha que era, escolhi um belíssimo vestido e caprichei no cabelo e na maquiagem. Investimento feito com carinho e prazer; Camila merecia um belo altar. Cheguei à igreja sob uma chuva chata e logo engatei num papo animado com as outras madrinhas, amigas da minha prima que, durante o pré-casamento, acabaram se tornando minhas amigas também. De tempos em tempos, pedia a Tia Rosane pra me dizer a localização do seu filho, meu primo e par Daniel, atrasadésimo. Papo vai, igreja enchendo, papo vem, Daniel chega, olho pra entrada do jardim e vejo a noiva e o pai. Showtime.


Com o braço engastado ao do Dani, a ficha finalmente caiu. Carambola de Maracatu Atômico! Conversava com meu primo sobre as gracinhas do Mateus, filho dele; reclamava do estresse contínuo do meu trabalho... e a Camila, bonitona e grande, Arquiteta e Urbanista (como diz a tattoo que leva no pé), com o Tio Ronaldo, vindo logo atrás de nós. Somos gente adulta, por mais incrível que possa parecer. Uau.


Entrei na igreja explodindo de felicidade, agradeci ao destino pela Mila ter encontrado alguém tão bacana quanto o Paulo pra compartilhar a vida e simplesmente me desmanchei quando ela parou, no meio do caminho para o altar, para beijar e abraçar a minha avó, tão velhinha e feliz por ver a sobrinha-neta se casando. Família é ruim, mas é bom demais. Após a saída, os padrinhos formaram um corredor polonês para jogar arroz sobre os noivos. Olhei pra empolgação do meu primo planejando tacar um punhadinho do cereal dentro da boca da Camila e reconheci o garoto espírito de porco e carinhoso que conheço desde que nasci. Algumas coisas nunca mudam.


Durante a festa, ao pedir ao garçon que servisse água à Tia Eliete, ele me perguntou qual das senhoras do grupinho que eu havia indicado era a minha tia. Ri muito e respondi que tias eram todas, mas a de preto é que tinha sede. No meio de tantas pessoas amadas, sem uma gota de álcool no sangue e recebendo muitos elogios à minha toilette, eu me senti abusadamente feliz e vaidosa. Sabem do que mais? Meninas solteiras e bem resolvidas são admiradas, mesmo quando se aproximam dos 30, e tias, dos 40 aos 80, não te cobram casamento; elas querem é te ver feliz. Quando essa felicidade transborda de você pelo simples prazer de ser quem é e estar exatamente onde gostaria de estar, ninguém no ambiente fica imune a ela. Ainda bem.