10.12.07

Pra não chorar...

Era antevéspera do meu aniversário.

Havia menos de 2 anos que eu tinha voltado pro Rio com a minha família, depois de quatro anos e meio entre Maceió e Curitiba. A temporada fora me proporcionou uma infância saudável, sem preocupações com violência urbana, e a oportunidade de viver coisas tão simples e deliciosas como pular amarelinha e elástico na rua, andar descalça e correr de bicicleta.

Mas eu tinha voltado pro Rio, ou melhor, pra Teresópolis, porque meus pais preferiram enfrentar 200 quilômetros de estrada por dia a me expor ao caos da segurança pública do Rio de Janeiro. Não conseguiam me imaginar pegando ônibus, tendo tênis roubado, essas coisas. Expostos a isso sempre estiveram meus parentes maternos, habitantes irremediáveis da Penha, Méier e Bonsucesso. Minha mãe foi criada num subúrbio carioca quase idílico; minha avó e suas irmãs mais novas, adolescentes bonitas e bem vestidas, faziam o "footing" nas tardes de domingo na Praça das Nações. Assim conheceram seus futuros maridos.

Algumas tragédias, infelizmente, são anunciadas. Na noite de 25 de agosto de 1994, o telefone tocou. Andréa, minha prima e afilhada da minha mãe, tinha sido novamente assaltada enquanto dirigia. Para nós, era algo quase corriqueiro. Já tínhamos perdido a conta dos roubos de carro a mão armada pelos quais a Andréa já tinha passado, e uma vez, dois anos antes, havia sido até pior: após tomar uma "fechada" na Av. Brasil, quando voltava da faculdade pra casa, os bandidos a colocaram no banco de trás e correram todo o subúrbio fazendo assaltos. Lembro dela contando a história pra minha mãe no telefone, e dizendo: "Eu não agüento mais viver aqui, quando eu me formar quero sair do Rio, quem sabe ir pra Maceió... posso morar com você, Dinda?"

Não deu tempo. O último assalto pegou minha prima no 5º período da faculdade de Administração. Foi à concessionária pegar o carro novo, um Prêmio novinho em folha, e ligou pra avó pedindo que não contasse a ninguém, porque meus tios pensavam que ela só o buscaria no sábado, e queria fazer surpresa. No caminho, passaria na faculdade, a Estácio de Sá do Rio Comprido, pra entregar um trabalho. Estava parada no sinal da Rua do Bispo com a Barão de Itapagipe quando alguém bateu com o cano de uma arma no vidro do ser lado. Assustada, tirou o pé da embreagem. O carro pulou, o assaltante pensou que ela fosse fugir e atirou. Por milímetros, a medula foi atingida.

Passei meu aniversário no hospital, junto com toda a família, mobilizada em torno daquele drama. Doze dias em coma, e a morte. Andréa tinha 23 anos, era linda, feliz e fazia muitos planos de futuro. Acabou. O enterro foi no dia do aniversário da minha mãe. Ela era apaixonada pela prima e afilhada, um amor tão grande que às vezes até me dava ciúmes. Arrisco dizer que, depois daquele dia, nunca mais foi a mesma.

Por uma infelicidade extrema, conheço o que a família do menino Hugo deve estar sentindo agora. Uma criança adorável, com a vida ceifada tão precocemente... não sei mais o que dizer.

E a cidade é linda. Talvez eu seja covarde e devesse lutar mais, mas cansei desse lugar. Mesmo. Quero ir embora, criar os filhos que terei sem medo de beijar-lhes a têmpera de manhã e vê-los estirados em alguma esquina à tarde. Não há quem mereça passar pelo que os meus tios e os pais do Hugo passaram.

21.11.07

Comme toujours


Parce que c'est très dificille de comprendre que, parfois, personnes ont le désir de voir dans l'âme des autres ses imperfections.

Mais je sais qui je suis: la même jolie elevée pour être une femme sensible, intelligente, belle, libre, singulaire, et aussi pleine d'amour pour donner.

Drôle.

Regardez ton interieur par deux minutes. Ta nature c'est l'opposé de ma nature. Tu n'est pas un homme seul, mais je suis comme ça par essence. Tandis que je suis unique, je peux t'aimer.

Comme a dit, certaine fois, le poète, "N'essaye pas de comprendre; vivre dépasse la compréhension". Si tu ne saches pas cette lesson, la plus importante, c'est à dire que tu n'as pas vécu.

Lá, au débout de mon chemin, l'insatisfaction, la tristesse, tout ça se deviendra une pâle souvenir, ainsi que ton visage. Mais je pourrai regarder mes jours de jeunesse et voir les plus belles couleurs du bonheur...

27.10.07

Musa


Quem estava em casa nessa sexta-feira à noite teve a oportunidade de ver um requinte de delicadeza na tela da Globo: o especial "Por toda a minha vida" que homenageou Nara Leão. Após passar mais da metade da minha vida sonhando com o dia em que Nara receberia uma homenagem à altura de sua importância para a cultura brasileira, tive a alegria e a emoção de ver minha pequenina TV, que ganhei quando tinha 5 anos e que tantas vezes me transmitiu fragmentos de Nara - pedacinhos de luz e brilho que clarearam minha adolescência -, mostrá-la por inteiro, sem enganos ou informações confusas. Tiremos, pois, o chapéu pra emissora dos Marinho: numa tacada só, presentearam nossos olhos e ouvidos com imagens raras do Show Opinião, o áudio da primeira apresentação pública de Nara - a voz emocionante, trêmula e delicada, de uma menina de 17 anos-, e as entrevistas em que a sua simplicidade, coerência e honestidade para com o mundo e consigo mesma transpareceram de modo incrivelmente claro.

Sempre tive uma profunda admiração por Nara Leão. Desde criança, sua imagem inspirou em mim algo muito forte. Eu adorava ouvir Elis, mas Nara tinha os meus cabelos, um jeito moreno, sem laquês, brilhos e maquiagem de palco; era uma pessoa adulta, assim como eu era uma pessoa menina. Que graça: antes da voz, da história de vida, de tudo, veio essa indentificação, que nunca consegui criar com qualquer outro artista. Depois, inoculado em mim o vírus da curiosidade, escrafunchei e entendi que aquela terrenidade de Nara era fruto da consciência de que ser artista não é diferente de ser médica ou engenheira: como todo profissional, o músico deve ter responsabilidade, vocação, sensiblidade e competência. Pra que afetações e 1000 toalhas brancas no camarim?

Essa postura de Nara diante da carreira fez com que fosse qualificada como "anti-artista". Sempre ouço das pessoas que com ela conviveram a observação de que era absurdamente simples como mãe, dona de casa e profissional. Resistia ao assédio da mídia e das pessoas não por arrogância ou complexo de superioridade; muito pelo contrário, não se via como alguém "especial" ou "diferente" só pelo fato de ser cantora. Ironicamente, essa visão de Nara, somada à sua acuidade para descobrir novos talentos, dar voz aos esquecidos e fazer seu trabalho da forma mais bela e digna possível, tornaram-na um mito. Passados quase 20 anos de sua morte, há um séquito de fãs apaixonados, que criam e movimentam comunidades virtuais, compram seus álbuns e DVDs, dividem gostos e exultam sua personalidade. A mulher que fundou a MPB, bateu de frente com os militares e lutou bravamente pela vida por 10 anos está viva por todos os cantos. Como disse Ruy Castro no dia de sua morte, "Não chorem; ouçam seus discos."

Ainda estou muito tocada pelo especial de ontem, mas há algo de bem egoísta nisso. Maior do que a alegria e a emoção de presenciar toda a ode, sinto-me profundamente feliz por ter escolhido Nara pra minha vida. Se me identifico com ela, deve haver algo de muito bom em mim. Não tenho mais 14 anos de idade, meu violão há muito tempo repousa num canto da casa de Teresópolis, mas... quanto orgulho!

20.7.07

737-100


Boeing 737-100, o primeiro da série, apelidado carinhosamente de "Baby Boeing" pelos que o consideravam uma miniatura do portentoso B 707.
Tenho carinho por esse modelo. Era ele, pintado nas cores da Varig, que me trazia para o carinho de tios, primos e avó, aqui no Rio, quando eu morava láááá em Maceió. Vinha sentada na 1A, com aquela bolsinha plástica de menor desacompanhado no pescoço, trazendo minha certidão de nascimento e a autorização do Juizado de Menores do Aeroporto Campo dos Palmares - MCZ, constando o nome dos responsáveis a quem eu poderia se entregue no portão de desembarque. Lembro que o vôo saía na hora do almoço, e sempre tinha aquele medalhão com batata noisette no serviço de bordo. Recebia a revista do Variguinho, conversava com os comissários, fazia amizade com algum adulto que vinha do meu lado. De vez em quando tomava um pequeno banho de Coca-Cola, consequência das turbulências típicas do horário, da estação do ano e da região... certa vez, numa descida muito rápida no Galeão, lembro da comissária, elegantíssima no seu uniforme azul-marinho denunciando uma discreta barriguinha de gravidez, que do seu assento fazia movimentos de mascar chiclete para aliviar a pressão nos ouvidos, de forma que eu e outra menina do meu lado repetíssemos. Tudo muito divertido.
Mas não é só disso que eu me lembro.
Havia, também, as cores das poltronas - amarelo, laranja e verde - e seus relevos que remetiam a plantas (isso eu achava meio feinho - preferia a Vasp e a Transbrasil!), as instruções de segurança várias vezes vistas, além de outras reminiscências: a primeira vez num wide-body, logo um Jumbo da Pan-Am, enorme, majestoso, e que parecia ainda maior perante os olhos de uma menina de 10 anos; os queijinhos tipo Polenguinho, que então eram raros nos supermercados brasileiros, mas estavam sempre no catering dos aviões; o cheiro típico de combustível; as curvas suaves descritas no ar; o calor extremo que fazia - e faz - nos túneis que ligam o avião ao interior do Galeão; os pequenos aeroportos do Nordeste; as voltas infindáveis sobre Maceió, toda vez que não tinha "teto" pra pousar; o piti de dois comissários da Transbrasil, me tirando da saída de emergência, num vôo mais... emocionante. Curioso como tudo era bom, tudo terminava bem. Voar era sinônimo de alegria, uma pontinha de orgulho de cruzar os céus do Brasil sempre.
Infelizmente, voar pra mim há muito deixou de ser uma felicidade tão grande. Ainda sou encantada por aviões, mas meu conforto começou a esmaecer com a primeira grande tragédia que acompanhei: o Fokker 100 da TAM se espatifando nas redondezas de Congonhas, em 1996. Dois anos depois, um vôo traumático me levou a ter medo, e também muita raiva. Raiva! Como alguém que já viajara tanto, que sabia o quanto os aviões eram seguros, poderia ter medo de voar? Não me conformava com isso! Teimosa que sou, continuei voando, voando e voando... até arrefecer os sintomas do pânico.
Hoje, ao medo somou-se a tristeza de sua justificação. Em menos de 1 ano, dois acidentes brutais, de alto calado, ceifaram a vida de mais de 300 brasileiros. Não sou especialista, mas não precisa ser mais que esperto pra saber que há algo de muito errado acontecendo. Na sexta-feira de Carnaval, passei quase 2 horas num finger do Galeão, esperando autorização para decolar num A-330 da TAP... só percebi o quanto havia atrasado já no ar - o papo com os meus pais me distraiu. Logo, só posso concluir que a ingerência e a irresponsabilidade com vidas tem que parar, e não por mim, que vôo - e continuarei voando - vez por outra, mas para os milhares que utilizam aviões com frequência. Tenho pessoas queridas nesse grupo, assim como outras, aeronautas, que passam grande parte do seu tempo em aviões. Chega.
Desculpem o longo desabafo, mas não agüento mais ver tudo isso acontecendo à revelia.

13.6.07

Em que espelho...

Hoje cheguei a casa e me olhei. Constatei a suspeita que tinha: havia me feito triste. Isso, porém, não assustou. O descalabro, esse sim, é que eu estava feia. Feia! Tão feia quanto nunca estive. E velha... Antes a tristeza me dava outros ares. Até me achava mais bela com as pálpebras pesando, choro sentido. Nada disso existe mais. Só dor, no corpo e na alma. Todas as dores, por todos os motivos, de todos os lados. São Sebastião flexado.

8.6.07

Lições de feriado

A casa está de cabeça pra baixo desde quarta-feira. Essa falta de geladeira, que deve ser sanada no domingo, abalou o equilíbrio de meu lar. Eita.

Esses feriados malucos me confundem toda. Fico lá na casa do namorado, daí não sei mais quando trocar a roupa de cama e as toalhas, a que horas estudar, tudo o mais. Mas tem sempre bom saldo, depois de um magistral balanço com a Amiga (assim, com letra maiúscula) ao telefone.

É assim que a gente aprende que as nossas pernas, braços e cérebros estão se movendo mais, e com mais perspectiva de velocidade, do que por vezes pensamos, por exemplo. E que eu me convenço de que sou um poço inesgotável de paciência com gente complicada, e por vezes aturo coisas que não deveria pelo simples prazer da boa convivência. Impressionante como sou ímã de situações fora de prumo. Idiota, até. Tenho o péssimo hábito de pensar que a boa vontade e a ausência de intenção de erro devem eximir as pessoas de ouvirem umas verdades, ou simplesmente serem criticadas. Caramba, como cansa ser "legal"! Há dias em que eu só queria ser escrota, muito escrota.

Noves fora, queria sempre agradecer aos meus pais pelo modo como me criaram. Apesar dos enganos e escorregões, existentes em qualquer educação, graças a eles me tornei uma pessoa livre, feliz, de bem com meu corpo, minha cabeça e com quem eu sou. Problemas todo mundo tem, mas estou longe das tristezas profundas travestidas de algo com outro nome que vejo por aí.

6.6.07

Alguma razão pra bom humor?

A geladeira nova que chegou anteontem não funcionou nem 24 horas, minha comida está na casa da minha tia, a minha cirurgia dói de manhã, dóóói, e incomoda muito, engordei dois quilos, não consigo estudar, odeio ficar sentada nessa bóia, ninguém entende o que eu falo no balcão da padaria, tá um frio de rachar o quengo como nunca vi nessa cidade, quero sair de casa pra trabalhar e só voltar à noite, como nos velhos e felizes tempos, tenho preguiça de colocar músicas no MP3, de tomar banho, de lavar o cabelo, de viver. Quero dinheiro. E tem roupa pra recolher do varal. E passar.

Se alguém tiver um bom motivo pro meu humor melhorar, avise-me. Tá fueda.

31.5.07

Amélia

Mas sabe qual é o sonho da minha vida, mesmo? Maior que todas as vontades profissionais, as ambições intelectuais, tudo?

Formar uma família bonita, zelar pelos filhos e pelo marido, alimentá-los, cuidar das roupas, perfumar a casa, enfim, ser uma feliz dona de casa.

Que a minha mãe não leia isso.

24.4.07

Au début

Hoje é terça-feira, ontem foi feriado e minhas pequenas primas debutaram na sexta.

Não vou dizer que me sinto velha e horrorosa por isso. Seria hipocrisia pura da minha parte. A verdade é que, apesar das pancadas que já levei, hoje sou muito mais jovem e bonita do que era com 15 anos. Um viva aos milagres do tempo e da indústria cosmética.

Mas, oh, não me canso de reclamar: a fase é difícil. Por mais que tenha algumas novas diretrizes bem traçadas para mudar o rumo do que não vinha funcionando, a agonia vem do fato puro e simples da vida ter me guardado alguns infortúnios que eu realmente não esperava. Se alguém me dissesse na adolescência que, à essa altura do campeonato, estaria batendo cabeça pra encontrar um caminho profissional, enquanto minha vida afetiva vai maravilhosamente bem, obrigada, eu cairia no chão de rir.

É claro que é ótimo chegar numa dessas festas de família e todo mundo te achar linda, luminosa, magra, diferente. Sorrisos muitos, roupa bonita, momentos de tranqüilidade. A auto-estima dispara - eu me senti bem, sim. Não dá pra ter tudo, não é mesmo? Só que gente é feita pra querer mais... e eu ainda quero muitas coisas, e agora. Mais festa, mais sorrisos, mas agora completos, com tudo o que eu posso. Soluções para essas chatices que tanto me atormentam. Comer bem, umas comprinhas no shopping, viagens bacanas - às minhas expensas. Poder ler sobre a História de Portugal, o Concílio de Nicéia, o Império Romano, tudo sem a menor obrigação. Paz. Tranqüilidade. E, quem sabe, no futuro, voltar com pretensões maiores a desejos que se mostraram tão amargos quando tentei realizá-los...

Eu não debutei no meu tempo de debutar. Achava, ou melhor, ainda acho - e que meus tios e minhas primas nunca leiam esse blog - muito cafona. Não sei o que isso significará pra elas, já que hoje em dia ninguém espera o baile de debutantes pra usar salto alto pela primeira vez, nem está interessada em ser "apresentada à sociedade" e arrumar um pretendente para casar. Entretanto, gosto da origem da palavra debutante. Début. Começo. Do zero.

Vai ver debutei um pouco também na sexta-feira. Redébut. Vontade, ou necessidade, de intentar uma nova trajetória, viver outros sonhos. Ainda é tempo de tirar de mim aquilo que tenho pra me dar...

16.4.07

Pílulas III

Não entendo as pessoas que dizem que fizeram essa ou aquela maluquice porque estavam bêbadas.
As maiores bobagens que eu já fiz na vida foram à base de Guaraná Antarctica - light.

4.4.07

Pílulas II

Frase batida, clichê encardido: o primeiro e último amor é o amor próprio.

Às vezes a gente esquece.

Hoje eu me lembrei.

3.4.07

Pílulas I

Há uns anos, um namorado me contou que uma professora amiga sua definira o doutorado como "a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa".

Depois das últimas 48 horas, estou começando a entendê-la.

19.3.07

Uma mulher de virgem

Uma mulher de virgem.
É isso que eu sou, parece. Pelo menos é o que diz o calendário. 27 de agosto.
Esses horóscopos dizem tanta, mas tanta coisa, que findei por recortar umas frasezinhas pra colar e comentar, que nem menina de ginásio. Vamos à limonada:

“Qual a imagem que você faz da mulher de virgem? Por acaso é aquela da donzela vestida de branco, pura e frágil? Sinto muito em dizer que esta idéia não tem nada a ver com a verdade!”
Essa é barbada. Claro que mulheres de Virgem não são donzelas divinais à espera do Príncipe Encantado. Valha-me Deus, quem seria capaz de pensar um despautério desses?!

“A preocupação é algo natural nesta mulher. Elas simplesmente não conseguem relaxar completamente. Mas não espere ver uma fisionomia carregada ou carrancuda. Normalmente elas costumam ter uma aparência serena e sempre o mesmo sorriso discreto, olhar tranqüilo e gestos calculados. Mas, mesmo possuindo este autocontrole e este comportamento sereno, elas costumam ser devoradas por ansiedades que nem o mais íntimo dos amigos tem conhecimento!”
Daí aquele batido comentário: “Nossa, você, tão calminha assim, tem gastrite nervosa e toma ansiolítico??? Não é possível!!!!”

“Ela é uma perfeccionista, o que não significa que seja perfeita. Tem seus traços negativos, e eles podem ser muito irritantes. Para começar, as mulheres de Virgem acreditam obstinadamente que ninguém é capaz de fazer as coisas com tanta ordem e eficiência quanto elas. Quando se trata de admitir que está errada, esta mulher parece sofrer um bloqueio mental. Ela tem mais facilidade para criticar os defeitos nos outros do que para aceitar os seus próprios.”
“Em primeiro lugar, sua espinha é feita de aço inoxidável.”
Muito irritante mesmo. Chatíssima, principalmente quando alguém se permite cometer dois pecados extremos: criticá-la diretamente, sem verniz, e fazer de qualquer jeito algo que ela faria perfeitamente (ou seja: tudo que há no mundo.)

“A virginiana não é nenhuma tola: perceberá uma mentira por mais bem elaborada que seja.”
Aaaahhh... tolinho é quem pensa que engana...

“Demonstrações dramáticas de amor, promessas sentimentais e exagero, não só deixa a mulher de virgem entediada, como podem assusta-la a ponto de nunca mais aparecer. Mas, seu coração pode amolecer se for conquistada aos poucos. Uma vez aceso o amor de Virgo, ele se torna tão incandescente, que faz com que as paixões dos outros signos fujam envergonhadas ante a sua intensidade e coerência de propósitos. Você terá toda a devoção e lealdade que merece. Ela é a única mulher capaz de ser terrivelmente prática e divinamente romântica.”
É por aí... como dizia o poeta: “As aparências enganam/ Aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam/ Na fogueira das paixões”. A mulher de virgem ama, sofre, se dá – ainda que você não perceba. E um carinho, um abraço, um beijo e um “eu te amo” não são moedas de troca, mas sim a mais pura tradução do que se passa em seu íntimo. Logo... valorize cada pequeno gesto virginiano, porque ele é carregado de significado.

Fontes:
http://www.revistaandros.com.br/virginiana.html
http://www.garotaesperta.com.br/index_03_06.html
http://br.answers.yahoo.com/rss/question?qid=20061024162820AAA1RCQ

13.3.07

Querelas do Brasil

Terça-feira de sol ardido no Rio de Janeiro.

Mais uma vez, cheguei com pilhas de livros pra entregar na biblioteca, e o atendente pergunta como consegui levar tantos de uma vez. É que o limite pra alunos da graduação são 2, mas os da pós podem pegar até 5. Quase oito anos depois do primeiro dia na UFF, ainda passo por universitária.

Saio da Uerj. Calça jeans, camiseta, Havaianas moderninhas, bolsa enorme, óculos escuros bacanas. No momento em que atravesso a passarela do Metrô, tenho um raro momento de reflexão otimista. A Radial Oeste passa sob os meus pés; ao lado está o Maracanã; ali atrás, o Cristo. Tenho 26 anos, acabei de fazer a inscrição nas disciplinas do doutorado e, peito cheio, penso que, se tudo correr bem, aos 30 terei conseguido o mais importante título da carreira de um intelectual. Às vezes nem eu acredito que isso está acontecendo tão cedo, apesar de todo o estudo, da passagem pelos melhores cursos de idiomas, os livros, viagens, colégios da melhor qualidade. Boa educação custa caro, e começa na primeira infância. Devo ser a mais jovem nessa turma de doutorandos.

O metrô pára na plataforma. Fugindo do calor renitente do final de verão carioca, vou ao encontro do ar condicionado; rapidamente entro e sento. De frente pra mim, cochila um homem mulato, de cabelos grisalhos, forte, bem composto, talvez um pouco envelhecido. Deve ter uns 40 e poucos anos, e parece mais pesado que cansado. Pela janela, o pano de fundo do seu sono é o Morro da Mangueira, teimando em ser idílico. Penso nos tempos em que os músicos negros não podiam entrar nas rádios, e vendiam seus sambas por qualquer preço aos compositores e cantores brancos. Lembro que Cartola, já poeta de meia-idade com diversas canções gravadas, foi encontrado lavando carros na Zona Sul, no início dos anos 60. Num átimo, retorno ao homem, que dorme profundamente, e percebo que a sua camisa cinza-mescla traz uma estampa da rede pública de ensino. Aluno uniformizado de nível fundamental.

Do lado de fora, o sol estala na lataria dos trens. O fim de tarde arde. No Estácio, salto do vagão e o homem continua lá, dormindo. Talvez perca a aula.

12.3.07

Cansaço

É essa a sensação.

Tanto correr atrás, horas intermináveis de pesquisa, uma batelada de textos, livros, anuários, compêndios, trabalho desde 0 3º período, e pra quê, me diga? As coisas simplesmente não funcionam, é assim.

O tempo de faculdade prometia, com o estágio bacana que se tornou contrato antes mesmo da formatura. Ambiente que era quase minha casa, chefes que eram meus mestres, sem deixar de serem chefes, remuneração compatível com o meu momento. Fiz projetos ótimos, escrevi livro, editei revista, conheci pessoas que admirava, aprendi muito. Mas deu-se que mudou o governo, veio a dança das cadeiras e... pronto. Todo mundo fora. Eu junto.

Vieram logo outros dois trabalhos, ambos públicos, suscetíveis às vicissitudes de sempre. No primeiro, um chefe de caráter duvidoso e uma conjunção política contrária e lá estava eu, mais uma vez fora. No segundo, nem cargo tinha - uma confusão total e completa. Depois de atrasos no pagamento, situação totalmente irregular, gente nomeada pra cargo de direção que nem sabia o que estava fazendo ali e, claro, a sensação de que estava permitindo a um tempo valioso da minha vida passar em vão por um trabalho que se extinguiria tão logo se extinguisse o governo, quem jogou a toalha fui eu. Fui estudar de novo, preparar meu projeto de reingresso no universo acadêmico. Nos meses de penúria pós-aprovação no mestrado e pré-concessão de bolsa, achei que tinha dado um péssimo passo. Besteira. Pouco tempo depois, a velha roda-viva da política passou e levou todo mundo pra bem longe daquele gabinete kafkiano, sob duríssimas acusações de corrupção e investigação do Ministério Público. Estivesse eu lá, hoje estava respondendo a inquérito administrativo. Bendito espírito de juventude...

Desde então, nunca mais voltei a trabalhar num escritório ou coisa que o valha. A bolsa mixa de mestrado me permitiu uma vidinha de estudante como antes eu ainda não havia conhecido e, confesso, isso me fez um bem mais que grande. Poder simplesmente desenvolver o conhecimento, assistir aulas, definir os rumos da pesquisa, apresentar comunicações, levar a outras paragens os resultados da minha investigação foi o maior prazer profissional que jamais sentira. Felicidade. Apesar de alguns percalços, tudo correu da melhor maneira possível: rendimento excelente e defesa de dissertação num clima de paz e passarinhos, com aprovação unânime no final.

Mas, até como o que é bom dura pouco, veio a seleção para a próxima etapa. Aqui, senhores, ainda não há o afastamento suficiente para contar com pormenores tudo o que houve, ou minha mais franca opinião sobre esse processo, mas adianto que não foi muito legal não. Ok, reclamando de barriga cheia: fui aprovada, estou dentro, ainda faço parte dessa tripulação. Mas a bolsa, famigerada bolsa, ainda mixa, mas um pouquinho mais gorda que aquela outra, tudo indica, não virá mesmo. E tome enviar currículo, fazer curso preparatório pra concurso público, esforços sem resultados concretos até agora. As provas, como todo mundo está careca de saber, estão cada vez mais disputadas. Sim, é questão de tempo, mas quanto? Dia desses, o coordenador de uma graduação fez mea culpa: "É, seu currículo é ótimo, mas não tenho como te contratar sem que você tenha experiência docente. Mas como você vai ter experiência docente, se ninguém te contratar por isso, né?" Um sábio.

Dentro de alguns dias, completarei um ano totalmente entregue às expensas paternas - o primeiro desde os 19 anos. A paciência foi-se escoando a conta-gotas; a perseverança, seja lá o que isso signifique, já dá claros sinais de esmorecimento. Estou cansada, burocratizada, fragilizada. Não sou senhora de planejar coisas, tomar decisões, estabelecer metas. Além dos conflitos internos, tão numerosos quanto os de um saco de gatos, ainda existe todo o ambiente externo, que parece querer te constranger o tempo inteiro. O ser humano não é necessariamente bom, sinto informar, e são poucos os que tem o mínimo de sensibilidade para perceber que não é divertido ter tempo de sobra, que você não escolheu a vagabundagem como um estilo de vida e, principalmente, que viajar a tiracolo dos teus pais não é sinônimo de diversão de graça, nem de que você pode se permitir pequenos luxos com freqüência. De dentro, as coisas são bem menos bonitas do que parecem.

Mas, como diz a minha mãe, há que se ter fé, pois sem ela nada somos. Enquanto houver vida, é tempo de tocar a bola. Quem sabe, dia desses, sai gol.

12.2.07

Ora,veja...

Deu-se que mais uma vez minhas ansiedades, frustrações e expectativas foram engolidas em volumes homéricos, e fizeram um belo estrago no meu sistema digestivo.

E aí, como se faz?

Trata-se do efeito, pra atenuar a dor física, e da causa, que tem origem na cuca.

Não farei aqui um longo tratado sobre as dores e delícias de ser filha única e nerd, depositária de todas as expectativas do mundo, ainda que silenciosas e discretas. Mas digo e repito: os maiores desafios da minha vida tiveram, têm e sempre terão menos a ver com os ímpetos de independência e sucesso do que com as permanências, a aceitação dos próprios limites, um nível de auto-conhecimento e compreensão que me permita optar pelo viver simples. Simples, não medíocre. Por favor, não confundamos alhos com bugalhos.

Entre tantas outras obviedades que sempre preciso reouvir e treouvir, hoje minha médica disse algo valioso: eu preciso de paz e organização pra viver bem. O caos não me interessa em nenhuma das suas formas, seja profissional, urbano ou pessoal. Fujo dele loucamente, tentando construir caminhos mais amenos. Tranqüilidade não é sinônimo de tédio; excessos são sinônimos de... gastrite.

O caso é mais ou menos esse. Vinte e seis anos, não me violento mais.

Este post pode denotar um profundo egotismo, e peço que não me levem a mal: escrever foi a forma mais confortável, desde sempre, que eu encontrei pra me expressar, e é para a escrita que canalizo a ansiedade, quando me falta o ar para falar, quando o nó na garganta é grande demais, quando simplesmente não consigo verbalizar o que sinto. E, como é o caso, aproveito pra dizer que amo aqueles que amo. Isso me vai melhor assim, publicado num blog promiscuamente público, mas dia desses ainda pego vocês de surpresa...