Uma mulher de virgem.
É isso que eu sou, parece. Pelo menos é o que diz o calendário. 27 de agosto.
Esses horóscopos dizem tanta, mas tanta coisa, que findei por recortar umas frasezinhas pra colar e comentar, que nem menina de ginásio. Vamos à limonada:
“Qual a imagem que você faz da mulher de virgem? Por acaso é aquela da donzela vestida de branco, pura e frágil? Sinto muito em dizer que esta idéia não tem nada a ver com a verdade!”
Essa é barbada. Claro que mulheres de Virgem não são donzelas divinais à espera do Príncipe Encantado. Valha-me Deus, quem seria capaz de pensar um despautério desses?!
“A preocupação é algo natural nesta mulher. Elas simplesmente não conseguem relaxar completamente. Mas não espere ver uma fisionomia carregada ou carrancuda. Normalmente elas costumam ter uma aparência serena e sempre o mesmo sorriso discreto, olhar tranqüilo e gestos calculados. Mas, mesmo possuindo este autocontrole e este comportamento sereno, elas costumam ser devoradas por ansiedades que nem o mais íntimo dos amigos tem conhecimento!”
Daí aquele batido comentário: “Nossa, você, tão calminha assim, tem gastrite nervosa e toma ansiolítico??? Não é possível!!!!”
“Ela é uma perfeccionista, o que não significa que seja perfeita. Tem seus traços negativos, e eles podem ser muito irritantes. Para começar, as mulheres de Virgem acreditam obstinadamente que ninguém é capaz de fazer as coisas com tanta ordem e eficiência quanto elas. Quando se trata de admitir que está errada, esta mulher parece sofrer um bloqueio mental. Ela tem mais facilidade para criticar os defeitos nos outros do que para aceitar os seus próprios.”
“Em primeiro lugar, sua espinha é feita de aço inoxidável.”
Muito irritante mesmo. Chatíssima, principalmente quando alguém se permite cometer dois pecados extremos: criticá-la diretamente, sem verniz, e fazer de qualquer jeito algo que ela faria perfeitamente (ou seja: tudo que há no mundo.)
“A virginiana não é nenhuma tola: perceberá uma mentira por mais bem elaborada que seja.”
Aaaahhh... tolinho é quem pensa que engana...
“Demonstrações dramáticas de amor, promessas sentimentais e exagero, não só deixa a mulher de virgem entediada, como podem assusta-la a ponto de nunca mais aparecer. Mas, seu coração pode amolecer se for conquistada aos poucos. Uma vez aceso o amor de Virgo, ele se torna tão incandescente, que faz com que as paixões dos outros signos fujam envergonhadas ante a sua intensidade e coerência de propósitos. Você terá toda a devoção e lealdade que merece. Ela é a única mulher capaz de ser terrivelmente prática e divinamente romântica.”
É por aí... como dizia o poeta: “As aparências enganam/ Aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam/ Na fogueira das paixões”. A mulher de virgem ama, sofre, se dá – ainda que você não perceba. E um carinho, um abraço, um beijo e um “eu te amo” não são moedas de troca, mas sim a mais pura tradução do que se passa em seu íntimo. Logo... valorize cada pequeno gesto virginiano, porque ele é carregado de significado.
Fontes:
http://www.revistaandros.com.br/virginiana.html
http://www.garotaesperta.com.br/index_03_06.html
http://br.answers.yahoo.com/rss/question?qid=20061024162820AAA1RCQ
19.3.07
13.3.07
Querelas do Brasil
Terça-feira de sol ardido no Rio de Janeiro.
Mais uma vez, cheguei com pilhas de livros pra entregar na biblioteca, e o atendente pergunta como consegui levar tantos de uma vez. É que o limite pra alunos da graduação são 2, mas os da pós podem pegar até 5. Quase oito anos depois do primeiro dia na UFF, ainda passo por universitária.
Saio da Uerj. Calça jeans, camiseta, Havaianas moderninhas, bolsa enorme, óculos escuros bacanas. No momento em que atravesso a passarela do Metrô, tenho um raro momento de reflexão otimista. A Radial Oeste passa sob os meus pés; ao lado está o Maracanã; ali atrás, o Cristo. Tenho 26 anos, acabei de fazer a inscrição nas disciplinas do doutorado e, peito cheio, penso que, se tudo correr bem, aos 30 terei conseguido o mais importante título da carreira de um intelectual. Às vezes nem eu acredito que isso está acontecendo tão cedo, apesar de todo o estudo, da passagem pelos melhores cursos de idiomas, os livros, viagens, colégios da melhor qualidade. Boa educação custa caro, e começa na primeira infância. Devo ser a mais jovem nessa turma de doutorandos.
O metrô pára na plataforma. Fugindo do calor renitente do final de verão carioca, vou ao encontro do ar condicionado; rapidamente entro e sento. De frente pra mim, cochila um homem mulato, de cabelos grisalhos, forte, bem composto, talvez um pouco envelhecido. Deve ter uns 40 e poucos anos, e parece mais pesado que cansado. Pela janela, o pano de fundo do seu sono é o Morro da Mangueira, teimando em ser idílico. Penso nos tempos em que os músicos negros não podiam entrar nas rádios, e vendiam seus sambas por qualquer preço aos compositores e cantores brancos. Lembro que Cartola, já poeta de meia-idade com diversas canções gravadas, foi encontrado lavando carros na Zona Sul, no início dos anos 60. Num átimo, retorno ao homem, que dorme profundamente, e percebo que a sua camisa cinza-mescla traz uma estampa da rede pública de ensino. Aluno uniformizado de nível fundamental.
Do lado de fora, o sol estala na lataria dos trens. O fim de tarde arde. No Estácio, salto do vagão e o homem continua lá, dormindo. Talvez perca a aula.
Mais uma vez, cheguei com pilhas de livros pra entregar na biblioteca, e o atendente pergunta como consegui levar tantos de uma vez. É que o limite pra alunos da graduação são 2, mas os da pós podem pegar até 5. Quase oito anos depois do primeiro dia na UFF, ainda passo por universitária.
Saio da Uerj. Calça jeans, camiseta, Havaianas moderninhas, bolsa enorme, óculos escuros bacanas. No momento em que atravesso a passarela do Metrô, tenho um raro momento de reflexão otimista. A Radial Oeste passa sob os meus pés; ao lado está o Maracanã; ali atrás, o Cristo. Tenho 26 anos, acabei de fazer a inscrição nas disciplinas do doutorado e, peito cheio, penso que, se tudo correr bem, aos 30 terei conseguido o mais importante título da carreira de um intelectual. Às vezes nem eu acredito que isso está acontecendo tão cedo, apesar de todo o estudo, da passagem pelos melhores cursos de idiomas, os livros, viagens, colégios da melhor qualidade. Boa educação custa caro, e começa na primeira infância. Devo ser a mais jovem nessa turma de doutorandos.
O metrô pára na plataforma. Fugindo do calor renitente do final de verão carioca, vou ao encontro do ar condicionado; rapidamente entro e sento. De frente pra mim, cochila um homem mulato, de cabelos grisalhos, forte, bem composto, talvez um pouco envelhecido. Deve ter uns 40 e poucos anos, e parece mais pesado que cansado. Pela janela, o pano de fundo do seu sono é o Morro da Mangueira, teimando em ser idílico. Penso nos tempos em que os músicos negros não podiam entrar nas rádios, e vendiam seus sambas por qualquer preço aos compositores e cantores brancos. Lembro que Cartola, já poeta de meia-idade com diversas canções gravadas, foi encontrado lavando carros na Zona Sul, no início dos anos 60. Num átimo, retorno ao homem, que dorme profundamente, e percebo que a sua camisa cinza-mescla traz uma estampa da rede pública de ensino. Aluno uniformizado de nível fundamental.
Do lado de fora, o sol estala na lataria dos trens. O fim de tarde arde. No Estácio, salto do vagão e o homem continua lá, dormindo. Talvez perca a aula.
12.3.07
Cansaço
É essa a sensação.
Tanto correr atrás, horas intermináveis de pesquisa, uma batelada de textos, livros, anuários, compêndios, trabalho desde 0 3º período, e pra quê, me diga? As coisas simplesmente não funcionam, é assim.
O tempo de faculdade prometia, com o estágio bacana que se tornou contrato antes mesmo da formatura. Ambiente que era quase minha casa, chefes que eram meus mestres, sem deixar de serem chefes, remuneração compatível com o meu momento. Fiz projetos ótimos, escrevi livro, editei revista, conheci pessoas que admirava, aprendi muito. Mas deu-se que mudou o governo, veio a dança das cadeiras e... pronto. Todo mundo fora. Eu junto.
Vieram logo outros dois trabalhos, ambos públicos, suscetíveis às vicissitudes de sempre. No primeiro, um chefe de caráter duvidoso e uma conjunção política contrária e lá estava eu, mais uma vez fora. No segundo, nem cargo tinha - uma confusão total e completa. Depois de atrasos no pagamento, situação totalmente irregular, gente nomeada pra cargo de direção que nem sabia o que estava fazendo ali e, claro, a sensação de que estava permitindo a um tempo valioso da minha vida passar em vão por um trabalho que se extinguiria tão logo se extinguisse o governo, quem jogou a toalha fui eu. Fui estudar de novo, preparar meu projeto de reingresso no universo acadêmico. Nos meses de penúria pós-aprovação no mestrado e pré-concessão de bolsa, achei que tinha dado um péssimo passo. Besteira. Pouco tempo depois, a velha roda-viva da política passou e levou todo mundo pra bem longe daquele gabinete kafkiano, sob duríssimas acusações de corrupção e investigação do Ministério Público. Estivesse eu lá, hoje estava respondendo a inquérito administrativo. Bendito espírito de juventude...
Desde então, nunca mais voltei a trabalhar num escritório ou coisa que o valha. A bolsa mixa de mestrado me permitiu uma vidinha de estudante como antes eu ainda não havia conhecido e, confesso, isso me fez um bem mais que grande. Poder simplesmente desenvolver o conhecimento, assistir aulas, definir os rumos da pesquisa, apresentar comunicações, levar a outras paragens os resultados da minha investigação foi o maior prazer profissional que jamais sentira. Felicidade. Apesar de alguns percalços, tudo correu da melhor maneira possível: rendimento excelente e defesa de dissertação num clima de paz e passarinhos, com aprovação unânime no final.
Mas, até como o que é bom dura pouco, veio a seleção para a próxima etapa. Aqui, senhores, ainda não há o afastamento suficiente para contar com pormenores tudo o que houve, ou minha mais franca opinião sobre esse processo, mas adianto que não foi muito legal não. Ok, reclamando de barriga cheia: fui aprovada, estou dentro, ainda faço parte dessa tripulação. Mas a bolsa, famigerada bolsa, ainda mixa, mas um pouquinho mais gorda que aquela outra, tudo indica, não virá mesmo. E tome enviar currículo, fazer curso preparatório pra concurso público, esforços sem resultados concretos até agora. As provas, como todo mundo está careca de saber, estão cada vez mais disputadas. Sim, é questão de tempo, mas quanto? Dia desses, o coordenador de uma graduação fez mea culpa: "É, seu currículo é ótimo, mas não tenho como te contratar sem que você tenha experiência docente. Mas como você vai ter experiência docente, se ninguém te contratar por isso, né?" Um sábio.
Dentro de alguns dias, completarei um ano totalmente entregue às expensas paternas - o primeiro desde os 19 anos. A paciência foi-se escoando a conta-gotas; a perseverança, seja lá o que isso signifique, já dá claros sinais de esmorecimento. Estou cansada, burocratizada, fragilizada. Não sou senhora de planejar coisas, tomar decisões, estabelecer metas. Além dos conflitos internos, tão numerosos quanto os de um saco de gatos, ainda existe todo o ambiente externo, que parece querer te constranger o tempo inteiro. O ser humano não é necessariamente bom, sinto informar, e são poucos os que tem o mínimo de sensibilidade para perceber que não é divertido ter tempo de sobra, que você não escolheu a vagabundagem como um estilo de vida e, principalmente, que viajar a tiracolo dos teus pais não é sinônimo de diversão de graça, nem de que você pode se permitir pequenos luxos com freqüência. De dentro, as coisas são bem menos bonitas do que parecem.
Mas, como diz a minha mãe, há que se ter fé, pois sem ela nada somos. Enquanto houver vida, é tempo de tocar a bola. Quem sabe, dia desses, sai gol.
Tanto correr atrás, horas intermináveis de pesquisa, uma batelada de textos, livros, anuários, compêndios, trabalho desde 0 3º período, e pra quê, me diga? As coisas simplesmente não funcionam, é assim.
O tempo de faculdade prometia, com o estágio bacana que se tornou contrato antes mesmo da formatura. Ambiente que era quase minha casa, chefes que eram meus mestres, sem deixar de serem chefes, remuneração compatível com o meu momento. Fiz projetos ótimos, escrevi livro, editei revista, conheci pessoas que admirava, aprendi muito. Mas deu-se que mudou o governo, veio a dança das cadeiras e... pronto. Todo mundo fora. Eu junto.
Vieram logo outros dois trabalhos, ambos públicos, suscetíveis às vicissitudes de sempre. No primeiro, um chefe de caráter duvidoso e uma conjunção política contrária e lá estava eu, mais uma vez fora. No segundo, nem cargo tinha - uma confusão total e completa. Depois de atrasos no pagamento, situação totalmente irregular, gente nomeada pra cargo de direção que nem sabia o que estava fazendo ali e, claro, a sensação de que estava permitindo a um tempo valioso da minha vida passar em vão por um trabalho que se extinguiria tão logo se extinguisse o governo, quem jogou a toalha fui eu. Fui estudar de novo, preparar meu projeto de reingresso no universo acadêmico. Nos meses de penúria pós-aprovação no mestrado e pré-concessão de bolsa, achei que tinha dado um péssimo passo. Besteira. Pouco tempo depois, a velha roda-viva da política passou e levou todo mundo pra bem longe daquele gabinete kafkiano, sob duríssimas acusações de corrupção e investigação do Ministério Público. Estivesse eu lá, hoje estava respondendo a inquérito administrativo. Bendito espírito de juventude...
Desde então, nunca mais voltei a trabalhar num escritório ou coisa que o valha. A bolsa mixa de mestrado me permitiu uma vidinha de estudante como antes eu ainda não havia conhecido e, confesso, isso me fez um bem mais que grande. Poder simplesmente desenvolver o conhecimento, assistir aulas, definir os rumos da pesquisa, apresentar comunicações, levar a outras paragens os resultados da minha investigação foi o maior prazer profissional que jamais sentira. Felicidade. Apesar de alguns percalços, tudo correu da melhor maneira possível: rendimento excelente e defesa de dissertação num clima de paz e passarinhos, com aprovação unânime no final.
Mas, até como o que é bom dura pouco, veio a seleção para a próxima etapa. Aqui, senhores, ainda não há o afastamento suficiente para contar com pormenores tudo o que houve, ou minha mais franca opinião sobre esse processo, mas adianto que não foi muito legal não. Ok, reclamando de barriga cheia: fui aprovada, estou dentro, ainda faço parte dessa tripulação. Mas a bolsa, famigerada bolsa, ainda mixa, mas um pouquinho mais gorda que aquela outra, tudo indica, não virá mesmo. E tome enviar currículo, fazer curso preparatório pra concurso público, esforços sem resultados concretos até agora. As provas, como todo mundo está careca de saber, estão cada vez mais disputadas. Sim, é questão de tempo, mas quanto? Dia desses, o coordenador de uma graduação fez mea culpa: "É, seu currículo é ótimo, mas não tenho como te contratar sem que você tenha experiência docente. Mas como você vai ter experiência docente, se ninguém te contratar por isso, né?" Um sábio.
Dentro de alguns dias, completarei um ano totalmente entregue às expensas paternas - o primeiro desde os 19 anos. A paciência foi-se escoando a conta-gotas; a perseverança, seja lá o que isso signifique, já dá claros sinais de esmorecimento. Estou cansada, burocratizada, fragilizada. Não sou senhora de planejar coisas, tomar decisões, estabelecer metas. Além dos conflitos internos, tão numerosos quanto os de um saco de gatos, ainda existe todo o ambiente externo, que parece querer te constranger o tempo inteiro. O ser humano não é necessariamente bom, sinto informar, e são poucos os que tem o mínimo de sensibilidade para perceber que não é divertido ter tempo de sobra, que você não escolheu a vagabundagem como um estilo de vida e, principalmente, que viajar a tiracolo dos teus pais não é sinônimo de diversão de graça, nem de que você pode se permitir pequenos luxos com freqüência. De dentro, as coisas são bem menos bonitas do que parecem.
Mas, como diz a minha mãe, há que se ter fé, pois sem ela nada somos. Enquanto houver vida, é tempo de tocar a bola. Quem sabe, dia desses, sai gol.
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