12.3.07

Cansaço

É essa a sensação.

Tanto correr atrás, horas intermináveis de pesquisa, uma batelada de textos, livros, anuários, compêndios, trabalho desde 0 3º período, e pra quê, me diga? As coisas simplesmente não funcionam, é assim.

O tempo de faculdade prometia, com o estágio bacana que se tornou contrato antes mesmo da formatura. Ambiente que era quase minha casa, chefes que eram meus mestres, sem deixar de serem chefes, remuneração compatível com o meu momento. Fiz projetos ótimos, escrevi livro, editei revista, conheci pessoas que admirava, aprendi muito. Mas deu-se que mudou o governo, veio a dança das cadeiras e... pronto. Todo mundo fora. Eu junto.

Vieram logo outros dois trabalhos, ambos públicos, suscetíveis às vicissitudes de sempre. No primeiro, um chefe de caráter duvidoso e uma conjunção política contrária e lá estava eu, mais uma vez fora. No segundo, nem cargo tinha - uma confusão total e completa. Depois de atrasos no pagamento, situação totalmente irregular, gente nomeada pra cargo de direção que nem sabia o que estava fazendo ali e, claro, a sensação de que estava permitindo a um tempo valioso da minha vida passar em vão por um trabalho que se extinguiria tão logo se extinguisse o governo, quem jogou a toalha fui eu. Fui estudar de novo, preparar meu projeto de reingresso no universo acadêmico. Nos meses de penúria pós-aprovação no mestrado e pré-concessão de bolsa, achei que tinha dado um péssimo passo. Besteira. Pouco tempo depois, a velha roda-viva da política passou e levou todo mundo pra bem longe daquele gabinete kafkiano, sob duríssimas acusações de corrupção e investigação do Ministério Público. Estivesse eu lá, hoje estava respondendo a inquérito administrativo. Bendito espírito de juventude...

Desde então, nunca mais voltei a trabalhar num escritório ou coisa que o valha. A bolsa mixa de mestrado me permitiu uma vidinha de estudante como antes eu ainda não havia conhecido e, confesso, isso me fez um bem mais que grande. Poder simplesmente desenvolver o conhecimento, assistir aulas, definir os rumos da pesquisa, apresentar comunicações, levar a outras paragens os resultados da minha investigação foi o maior prazer profissional que jamais sentira. Felicidade. Apesar de alguns percalços, tudo correu da melhor maneira possível: rendimento excelente e defesa de dissertação num clima de paz e passarinhos, com aprovação unânime no final.

Mas, até como o que é bom dura pouco, veio a seleção para a próxima etapa. Aqui, senhores, ainda não há o afastamento suficiente para contar com pormenores tudo o que houve, ou minha mais franca opinião sobre esse processo, mas adianto que não foi muito legal não. Ok, reclamando de barriga cheia: fui aprovada, estou dentro, ainda faço parte dessa tripulação. Mas a bolsa, famigerada bolsa, ainda mixa, mas um pouquinho mais gorda que aquela outra, tudo indica, não virá mesmo. E tome enviar currículo, fazer curso preparatório pra concurso público, esforços sem resultados concretos até agora. As provas, como todo mundo está careca de saber, estão cada vez mais disputadas. Sim, é questão de tempo, mas quanto? Dia desses, o coordenador de uma graduação fez mea culpa: "É, seu currículo é ótimo, mas não tenho como te contratar sem que você tenha experiência docente. Mas como você vai ter experiência docente, se ninguém te contratar por isso, né?" Um sábio.

Dentro de alguns dias, completarei um ano totalmente entregue às expensas paternas - o primeiro desde os 19 anos. A paciência foi-se escoando a conta-gotas; a perseverança, seja lá o que isso signifique, já dá claros sinais de esmorecimento. Estou cansada, burocratizada, fragilizada. Não sou senhora de planejar coisas, tomar decisões, estabelecer metas. Além dos conflitos internos, tão numerosos quanto os de um saco de gatos, ainda existe todo o ambiente externo, que parece querer te constranger o tempo inteiro. O ser humano não é necessariamente bom, sinto informar, e são poucos os que tem o mínimo de sensibilidade para perceber que não é divertido ter tempo de sobra, que você não escolheu a vagabundagem como um estilo de vida e, principalmente, que viajar a tiracolo dos teus pais não é sinônimo de diversão de graça, nem de que você pode se permitir pequenos luxos com freqüência. De dentro, as coisas são bem menos bonitas do que parecem.

Mas, como diz a minha mãe, há que se ter fé, pois sem ela nada somos. Enquanto houver vida, é tempo de tocar a bola. Quem sabe, dia desses, sai gol.

Nenhum comentário: