Essa semana, recebi uma proposta de emprego que, bem comparando, foi algo como jogar um fio desencapado para içar alguém que caiu num poço. Teria de me mudar de mala e cuia do Rio para o último lugar na esfera terrestre onde deveria pensar em viver para trabalhar em algo que não amo e ganhar um salário mediano.
Vocês devem estar se perguntando: ok, se era tão ruim, por que falar disso agora? Simples: porque eu sou uma kamikaze emocional. Não posso ver o abismo ali, pertinho, pertinho, que a tentação de me jogar cresce e por pouco não me engole. Além disso, minha alma nômade faz borboletas esvoaçarem pelo abdômen toda vez que ouço a palavra "mudança". Quanto maior a distância, maior o número de borboletas.
Como nem eram tantos os quilômetros assim que separariam a vida nova da velha vida, e como essa nova vida correria o sério risco de ser bem velha nos aspectos mais modorrentos, resolvi declinar. Acho que esse foi o maior serviço que já prestei à minha sanidade física, mental, espiritual e, last but not least, profissional. Cá estou, quietinha.
Só um detalhe: gente cismada como eu, que não consegue ver a vida como um conjunto de acontecimentos aleatórios que nenhuma harmonia guardam entre si, não é capaz de passar por cima de um acontecimento desses sem alguma reflexão. O primeiro movimento é acreditar que o destino está soprando naquela direção, e o certo é simplesmente abandonar-se ao sabor das marés. Mas tudo muda quando, bem calcados os dois pés no chão, damos-nos conta de que está em xeque algo tão frágil, mas tão definitivamente imprescindível, quanto a mínima felicidade necessária para sobreviver. Talvez seja uma força maior pondo a prova nossa capacidade de resistir à mudança efêmera e de buscar a paz e a realização verdadeiras. Talvez seja o momento de fazer a escolha irreversível pela vocação para a alegria de viver. Maktub.
(P.S.: admirador secreto... isso não é coisa que se faça com a minha curiosidade infantil!)
2 comentários:
A curiosidade move nossas vidas :)
Fico feliz em saber que não vai mudar de cidade.
Ass.: Admirador secreto.
Ah, move. Se move.
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