3.4.10

Um exercício

Eu sou impaciente e desesperada.

Tá, disso todo mundo já sabe.

É que eu não sou assim sempre - digo, nas condições normais de temperatura e pressão. Se minha vida estiver virginianamente organizada, do modo como eu gosto, fico calma, calma, calma. Agora, coloque uma bagunça, uma indecisão, um vai-não-vai, e você verá a pessoa mais rabugenta, chata e ansiosa do mundo em ação. Um dos motivos que me fizeram escolher prestar concursos, além da minha paixão pela administração pública (e isso não é sarcasmo, caso não dê pra notar), é a estabilidade. ESTABILIDADE! Horários, salário certo, mudanças de rotina e emprego que dependem única e exclusivamente DE MIM, e não da boa vontade e simpatia de ninguém.

E assim foi por um bom tempo... até acontecer meu novo emprego. É público, paga melhor que o anterior, mas está me matando. Há uma semana sentei praça na nova autarquia e, até agora, já "morei" em três cidades diferentes e "exerci" pelo menos umas três funções. Na prática, foram os quatro dias mais improdutivos que já vivi. À espera de que a administração decida o que fazer comigo e com os outros convocados, passei dias sentada numa sala de reunião numa dinâmica de convivência à la Big Brother. Demos todos aqueles passos clássicos: cumprimentar-se, contar da própria vida, observar, fazer fofoca, confabular planos estratégicos e, por fim, entrar na decadência total, que é falar mal dos outros.

Estou exausta. Desde segunda que mal como e durmo bem mais ou menos. A cada dia é uma nova apreensão, uma ardência mais ardida na boca do estômago. Já chorei, sorri, esperneei e me virei do avesso de raiva. E de nada adiantou, claro. Na ilusão de ser cada vez mais dona da minha vida, perdi totalmente o controle sobre o meu destino. Que merda.

Mas o lance, meus amigos, é aproveitar essa liçãozinha que o mundo parece querer me dar. Não há nada a fazer, a não ser aprender (ou pelo menos tentar) a ser um bocadinho paciente e tranquila, já que nem tudo está ao alcance imediato das minhas mãos. Duvido muito que eu consiga, mas juro que continuarei tentando. Só espero não pirar de vez até o final dessa odisseia.

Um comentário:

gabriela f disse...

mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma / até quando o corpo pede um pouco mais de alma / a vida não pára.