22.9.10

Ouvidor



É claro, meu bem, que tudo foi importante. O dia em que te conheci e nem cogitei te querer. A primeira vez que nossos olhos se entenderam. E aquela noite - Deus, tanto tempo faz! - que você se atreveu a pegar na minha mão. E tudo que veio depois. O beijo roubado e o consentido. A rusga, a confusão. Você, alquebrado. Eu, altiva, tive vontade de te pegar no colo - e peguei. Daí pro inevitável acontecer, foi questão de tempo.

E veio tudo aos borbotões, como uma hemorragia quente e viscosa. Por vezes te levava no lombo, mansa, boa, patológica. Concessões, separações, reencontros, tentativas, desejo, dor, excessos. A alma mastigada, amarfanhada como roupa torcida. Tudo importante, como já disse. Pausa, recomeço, o fim. Tudo importante, muito importante.

Mas nada, meu caro
Absolutamente nada
Nem um carinho
Um beijo
Ou a noite de amor mais abusada
Os entardeceres na Guanabara
Os amanheceres no Arpoador
Os euteamos - inúmeros
Nada, nada, nada

É comparável ao dia em que, vestida de fresco, desci a Rua do Carmo, entrei na Ouvidor e dobrei a esquina da Travessa de mãos dadas com outro homem.

3 comentários:

Nanda disse...

:'(

Anônimo disse...

maravilha!

Vc tem cabelos brancos Flavia?


Mauro

Flavia C. disse...

Uma mecha bem grande e escondida, Mauro - desde os 6 anos...